Chelas

Chelas

Dizem “Sara, tem cuidado com o que dizes
Lava a cara, tu não mostres de onde vens
Põe vestidos e esconde as tuas raízes
Finge lá que és senhora, tu finges bem”

Dizem “Glória, tu usa as unhas mais curtas
Fala bom português, larga o calão
Não fales da pobreza, da noite escura
Ganha quem tem poder e não coração”

Mas no meu bairro eu vejo prédios de todas as cores
Que gritam ao mundo “o pobre há de sempre ser pobre”
No meu bairro vejo gеnte, sei dos seus horrorеs
E que quem vem da rua é sempre nobre

Eu venho do bairro
Da janela conto as estrelas
Eu venho do bairro
Da janela conto as estrelas
Não sou de mais lado nenhum
Eu sou de Chelas
Não sou de mais lado nenhum
Eu sou de Chelas

Dizem “Glória, a maquilhagem ‘tá carregada”
Dizem “Glória, finge lá ser o que não és”
Mas disso eu já sei tudo e estou cansada
Levo o Samba na voz e salto nos pés

Dizem “Sara, tu sorri, sê mais comedida
Cumprimenta os senhores, faz-me o favor”
Mas o fado que eu canto, canta-me a vida
É a voz de quem nasce filho da dor

E no meu bairro eu vejo prédios de todas as cores
Que gritam ao mundo “o pobre há de sempre ser pobre”
No meu bairro vejo gente, sei dos seus horrores
E que quem vem da rua é sempre nobre

Eu venho do bairro
Da janela conto as estrelas
Eu venho do bairro
Da janela conto as estrelas
Não sou de mais lado nenhum
Eu sou de Chelas
Não sou de mais lado nenhum
Eu sou de Chelas

Ficha técnica